segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Mágico

Assisti a maravilhosa animação “O Mágico” na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Foi dirigida por Sylvain Chomet que fez também o ótimo “As Bicicletas de Belleville”. O estilo do diretor é muito claro e bonito. Traços finos, ausência quase total de diálogos e muitos planos gerais.
É impressionante como ele consegue contar a historia sem recorrer a diálogos. Mesmo quando há algum diálogo é incompreensível, mais ou menos como em “Tempos Modernos” de Chaplin em que ele canta numa língua estranha e mesmo assim conseguimos entender perfeitamente o que ele está dizendo.
Comparado com a literatura, o cinema é explícito, quase pornográfico. Revela tudo de uma vez e não deixa espaço para a imaginação. A pantomima funciona tão bem no cinema, pois possibilita uma interação com história, dá esse espaço para completarmos as lacunas.
Quando ouvimos os personagens falando na língua estranha de “O Mágico”, somos obrigados a imaginar o que eles estão dizendo. Viramos participantes ativos.
Outra coisa ótima no filme são os planos gerais e poucos cortes. A cobertura (planos de câmera) é mínima, geralmente uma cena tem apenas um plano geral onde se desenrola a ação. Parece teatro. Acho que não tem um close sequer no filme todo.
“Busca Frenética” de Roman Polanski também foi feito quase todo em planos gerais. As lentes usadas foram apenas uma 19mm e uma 35mm. Ambas grande angulares.
Particularmente eu gosto de closes, mas filmes feitos em planos gerais têm uma simplicidade e elegância únicas. Parece que você está realmente naquele lugar com os personagens.
“O Mágico’ não é uma animação para crianças. Trata da desilusão e do desamparo que os artistas estão sempre a um pé de distância.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bandidos Bandidos

Por alguma estranha razão é muito comum vermos os bandidos retratados como bonzinhos, coitados e benfeitores da comunidade em filmes brasileiros. Talvez tenha a ver com a proximidade com que convivemos com a bandidagem. Por osmose haveria uma mescla. Como exemplo, temos o bandido charmoso de “O bandido da luz vermelha”, os bandidos coitados de “Carandiru”, o bandido incompetente e ingênuo de “Meu nome não é Johnny”, os bandidos injustiçados de “Cidade de Deus” e por aí vai.

Eis que em Tropa de Elite 2, os bandidos são bandidos. Também são bandidos, a polícia e os políticos. Bem mais realista.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ver histórias

Recentemente um amigo diretor, me mandou um trailer de um filme feito com a câmera Red. É uma câmera digital que está sendo muito usada em cinema, mas que os puristas da película odeiam. Realmente a imagem digital é muito limpa, muito certinha, não tem o grão, a textura nem a sujeira do 35mm.

É como comparar o vinil com o CD. Não tem os pequenos riscos. Aquela tal coisa “orgânica”.

Meu amigo peliculeiro criticou ardorosamente a imagem flat do trailer. Fui conferir e aconteceu uma coisa curiosa. Nos primeiros segundos achei a imagem meio sem graça de fato, mas depois a trama me cativou de tal maneira que parei de ver a imagem. Mesmo sendo um trailer, eu só via a história.

Um filme é feito de dezenas de coisas. É uma mistura de ingredientes. Música, figurinos, atores, cenários, objetos de cena, mise en scene, luz, efeitos, etc. Mas o pano de fundo de todos esses elementos é a história. É como se fosse o meio sobre o qual eles flutuam. Ser o químico da história é a maior habilidade de um cineasta

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A ansiedade nossa de cada dia

Ontem o Arnaldo Jabor foi ao programa do Jô Soares e disse uma coisa que é a pura verdade. "Todo cineasta vive ansioso ou frustrado".

Tenho vários projetos tramitando em diferentes lugares. Canais de TV, leis de incentivo, editais e até portais de internet. São filmes, programas de TV, seriados, etc. Todos aguardando um green light do executivo do canal ou a captação nas leis ou o resultado do edital. Até lá, vive-se nesse estado moribundo, meio zumbi. Ansioso um dia, frustrado no outro. Aí, quando um desses projetos finalmente tem a aprovação para ser produzido, já nem lembramos mais direito o que era. Retomar aquelas ideias de dois anos atrás é meio como remexer num cadáver.

Imagine uma mulher grávida. No final do quarto mês o médico vira e diz que pode demorar uns dois anos no mínimo para o bebê nascer. E pode ser que nem venha a nascer, pode estar morto. Tudo bem, ela pensa. Um ano depois ela já se acostumou a andar por aí com aquela barriga enorme. Aliás, ela já engravidou de novo e de novo de muitos outros bebês. Aí o médico diz que o primeiro vai nascer. Primeiro? Que primeiro?

E continuamos com os projetos, mil projetos. Mil ideias.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quanto custa fazer um filme?

Dark Reprieve é um filme de terror que custou 50 mil dólares e foi vendido no AFM para vários países. Um dos motivos é que é um filme com uma temática universal e foi feito barato. Foi filmado em 35mm e a equipe era pequena. O diretor, Richard Boddington, fez a fotografia, a produção e a edição.



Geralmente ouço lamúrias de colegas que trabalham com cinema e publicidade dizendo que no Brasil um filme é feito com muito pouca grana. Coisa de 3 milhões de dólares é a média de um filme nacional. Uma ninharia, claro. O que suporta a tese de que 3 milhões é dinheiro de café são alguns filmes americanos como Avatar 500 milhões, Piratas do Caribe 300 milhões, Origem 200 milhões, Batman 150 milhões, etc. O ponto central aqui é que esses filmes não são a regra. A esmagadora maioria dos filmes produzidos no mundo custa um 1 milésimo disso.

Alguns:

Atividade Paranormal custou 15 mil dólares, arrecadou 110 milhões

Bruxa de Blair custou 22 mil, arrecadou 250 milhões

Apenas Uma Vez (ótimo filme) custou 150 mil, arrecadou 20 milhões

Rocky (sim, o antigo do Stallone) custou 1 milhão, arrecadou 225 milhões

Super Size Me custou 65 mil, arrecadou 11 milhões

El Mariachi custou 7 mil, arrecadou 2 milhões

Pi custou 60 mil, arrecadou 3 milhões

A Marca da Pantera (filme excelente) custou 134 mil, arrecadou 4 milhões

E o mais caro que achei entre os baratos, O Ultimo Exorcismo, que está bombando nos cinemas do mundo inteiro, custou justamente os “míseros” 3 milhões de dólares.

Claro que estou olhando exatamente os que fizeram sucesso entre os filmes de baixo orçamento. No rastro deles há dúzias mofando dentro das latas. Estatisticamente a lista acima não diz muito. Mas ela serve para mostrar que fazer filmes pode ser o melhor negocio do mundo financeiramente e que é perfeitamente possível fazê-los bons e baratos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Rapido, barato e que dê lucro

O exato oposto da esmagadora maioria dos filmes de longa metragem feitos hoje no Brasil. Demoram vidas inteiras para produzir. São caríssimos, mesmo para padrões americanos, e não dão um centavo de lucro.

Minha ideia é bem simples. Obvia até.

Rápido: Um ano da ideia ao filme pronto.

Barato: Menos de 100 mil reais.

Que dê lucro: Vender os direitos para distribuidores internacionais.