Assisti a maravilhosa animação “O Mágico” na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Foi dirigida por Sylvain Chomet que fez também o ótimo “As Bicicletas de Belleville”. O estilo do diretor é muito claro e bonito. Traços finos, ausência quase total de diálogos e muitos planos gerais.
É impressionante como ele consegue contar a historia sem recorrer a diálogos. Mesmo quando há algum diálogo é incompreensível, mais ou menos como em “Tempos Modernos” de Chaplin em que ele canta numa língua estranha e mesmo assim conseguimos entender perfeitamente o que ele está dizendo.
Comparado com a literatura, o cinema é explícito, quase pornográfico. Revela tudo de uma vez e não deixa espaço para a imaginação. A pantomima funciona tão bem no cinema, pois possibilita uma interação com história, dá esse espaço para completarmos as lacunas.
Quando ouvimos os personagens falando na língua estranha de “O Mágico”, somos obrigados a imaginar o que eles estão dizendo. Viramos participantes ativos.
Outra coisa ótima no filme são os planos gerais e poucos cortes. A cobertura (planos de câmera) é mínima, geralmente uma cena tem apenas um plano geral onde se desenrola a ação. Parece teatro. Acho que não tem um close sequer no filme todo.
“Busca Frenética” de Roman Polanski também foi feito quase todo em planos gerais. As lentes usadas foram apenas uma 19mm e uma 35mm. Ambas grande angulares.
Particularmente eu gosto de closes, mas filmes feitos em planos gerais têm uma simplicidade e elegância únicas. Parece que você está realmente naquele lugar com os personagens.
“O Mágico’ não é uma animação para crianças. Trata da desilusão e do desamparo que os artistas estão sempre a um pé de distância.